Mateus Viliam Oliveira Alecrim Dourado Araújo, 32 anos, contou para a polícia que matou a jornalista Daniela Bispo dos Santos, 38, porque estava sendo pressionado por ela a terminar o relacionamento que tinha com outra mulher. Os dois se conheceram em uma empresa de Call Center, há 4 anos, e, mesmo depois de deixarem de trabalhar juntos, mantiveram uma relação amorosa que começou em 2014 e terminou com o assassinato dela na noite desta segunda-feira (13).
Segundo a delegada Milena Calmon, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), ontem Mateus chegou ao Edifício Catabas Empresarial, na Avenida Tancredo Neves, no começo da noite. Ele carregava uma mochila e tinha marcado de conversar com Daniela. A jornalista trabalhava no 1º andar desse prédio.
Por volta das 19h, ela deixou a sala onde trabalhava e foi até o 6º andar. Na saída, Daniela disse aos colegas que iria em uma farmácia e voltaria em alguns minutos, mas, na verdade, estava indo se encontrar com Mateus. Testemunhas ouvidas pela delegada contaram que o homem conhecia algumas pessoas que trabalham no prédio e, por isso, conseguiu entrar sem dificuldades no edifício.
“Houve uma discussão, e ele contou que começou a agredir ela com socos. Depois, retirou uma pedra que tinha levado na mochila e passou a agredi-la com pedradas. Ela caiu um lance de escadas, do 6º para o 5º andar. Em seguida, ele trocou de camisa enquanto descia as escadas e saiu pela garagem do prédio”, contou a delegada.
Mateus pegou um ônibus e trocou novamente de camisa dentro do coletivo. Ele foi flagrado pelas câmeras de segurança do edifício, e reconhecido por uma das amigas de Daniela. A amiga contou para a polícia que a jornalista já havia mostrado uma foto de Mateus para ela, e contou que os dois estavam tendo um relacionamento. Outras pessoas próximas da vítima foram intimadas, o durante os depoimentos Matheus foi identificado.
Ameaças
A polícia foi até a casa dele, no bairro da Saúde, em Salvador. Ele não estava, mas os investigadores encontraram a mãe dele. Ela ligou para o filho e ele disse que estava próximo a um supermercado, em Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador. Os investigadores foram até o local e prenderam Mateus em flagrante, por volta das 14h. A delegada contou que ele não resistiu a prisão, mas negou envolvimento no crime até ver as imagens em que ele aparece saindo do prédio onde tudo aconteceu.
Nesta terça, Mateus disse estar arrependido e alegou que estava sendo ameaçado pela vítima.
“Ela me ameaçou, estava me chantageando. Ela queria que eu terminasse o meu noivado. Disse que iria procurar minha noiva para contar tudo. Eu não estava aguentando mais”, disse.
“Eu não tinha relacionamento com ela há três meses. Eu tenho família, tenho filho. Isso (o assassinato) jamais era algo que eu pensasse para minha vida ou de que eu fosse me orgulhar. Eu não sabia que teria coragem para fazer isso com ela. Eu me arrependo do que fiz. Agora, eu só espero a morte”, afirmou, durante entrevista no DHPP.
Mateus contou para a delegada que pegou a pedra no caminho até o prédio onde o crime aconteceu. Ele partiu um pedaço de paralelepípedo e colocou na mochila que carregava. A pedra ainda não foi recuperada pela polícia, mas a delegada afirmou que o fato dele ter levado o objeto aponta para premeditação do crime, e que vai indiciá-lo por homicídio qualificado. A qualificante é feminicídio.
Familiares de Daniela contaram que o corpo dela será sepultado na manhã desta quarta (15), no cemitério da Ordem Terceira do Carmo, na Quinta dos Lázaros, bairro da Baixa de Quintas, em Salvador. “Ela era uma menina cheia de vida. Era muito séria, mas também muito alegre. Todos nós estamos chocados com essa covardia”, contou um dos familiares, que pediu para não ser identificado. Daniela deixa dois filhos adolescentes.
Ela trabalhava em uma empresa de call center, mas era jornalista de formação. Em nota, o Sindicato dos Jornalistas dos Profissionais no Estado da Bahia (Sinjorba) lamentou o ocorrido.
“A morte da colega aumenta a revoltante estatística brasileira de crimes praticados contra mulheres pelo fato de serem mulheres, por homens com os quais se relacionavam. O feminicídio mata oito mulheres por dia no Brasil e até maio deste ano, a Polícia registrou mais de 10 mil casos de violência contra a mulher na Bahia. O Sinjorba se une a familiares, amigos e colegas neste momento de dor e pretende acompanhar e divulgar as investigações para prisão e julgamento do autor deste crime”, diz a nota. (CORREIO DA BAHIA)