O uso de substâncias anabolizantes pode provocar doenças hepáticas e cardiovasculares, de acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), doutor Fabio Trujilho. Nesta terça-feira (27), a vendedora Jéssica Avelino Morais, 25 anos, morreu após passar mal dentro de uma academia no bairro de Tancredo Neves.
Familiares da jovem disseram em entrevista à TV Bahia que ela já havia feito uso de oxandrolona e stanozoland stanozolol, anabolizantes derivados da testosterona. Outros parentes, no entanto, negam que Jéssica fizesse o uso das substâncias. Só um laudo atestará a causa da morte de Jéssica.
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Jéssica Avelino Morais
(Foto: Reprodução) |
Trujilho explica que o efeito de hipertrofia desejado pelas pessoas que usam as drogas não se limita aos músculos dos braços e pernas. “O coração também é um músculo e, quando ele aumenta de tamanho, pode provocar arritmias e até levar a uma parada cardíaca”, afirmou o especialista.
A endocrinologista e conselheira do Conselho Regional de Medicina da Bahia (Cremeb) Diana Viegas diz que o aumento da musculatura cardíaca demanda mais oxigênio para funcionar. “Uma das principais causas de morte de quem usa anabolizantes é o infarto, o que é bastante incomum para uma pessoa jovem”, explicou. Outro grave risco é o de desenvolvimento de tumores no fígado.
O educador físico Guilherme Valero, coordenador da academia Bodytech, conta que além das mudanças no organismo o uso de anabolizantes provoca também alterações de comportamento. “Três coisas são acentuadas na mulher: a irritabilidade a impaciencia e intolerância, que são características de homens com excesso de testosterona”, disse.
Trujilho alerta que muitas pessoas que fazem o uso indevido dessas substâncias utilizam concomitantemente os chamados termogênicos, ou substâncias pré-treino, que também aumentam a frequência cardíaca e contribuem para um acidente cardiovascular. O especialista ressalta também que os anabolizantes podem provocar atrofia testicular nos homens, queda de cabelo e nascimento de pelos nas mulheres e até levar à infertilidade.
Ainda segundo o especialista, toda substância utilizada para aumento de massa muscular pode ser considerada anabolizante. Os anabolizantes esteróides, como o oxandrolona e stanozoland stanozolol, são derivados do hormônio masculino testosterona. Outros hormônio como o GH (hormônio do crescimento) e até mesmo a insulina também são usados com finalidade anabólica.
Venda controladaTrujilho conta que a venda dessas substâncias é controlada e só pode ser feita mediante apresentação de receita médica. “Para se ter uma ideia, quando vou receitar qualquer uma dessas drogas coloco na receita o CID [Código Internacional de Doença] da enfermidade, o meu número de registro no Conselho e o meu CPF”, descreve.
Ele esclarece que esses medicamentos são receitados para homens que sofrem de problemas graves de atrofia testicular, idosos ou portadores de doenças graves, como a Aids, com perda excessiva de massa muscular e outros casos excepcionais. “As pessoas que usam a droga de forma irregular geralmente a compram no mercado negro e tomam sem nenhum tipo de acompanhamento médico”, afirma.
De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), as duas substâncias estão nas chamadas Listas de Substâncias Entorpecentes, Psicotrópicas, Precursoras e Outras sob Controle Especial. Estão sujeitas, portanto, à receita de controle especial em duas vias.
A médica Diana Viegas conta que a oxandrolona e a stanozolol eram usadas para estimular o crescimento em crianças e como repositor hormonal, porém, hoje em dia não se destinam a essas indicações. “Há uns 25 anos era comum usar essas substâncias para estimular o crescimento em crianças e para reposição hormonal, mas hoje não existe mais indicação clínica para nenhum dos dois. Quando é necessário fazer a reposição de hormônio masculino, usamos medicamentos que têm como base a própria testosterona”, ressaltou a médica.
Diana alerta ainda que o uso contínuo dessas substâncias pode causar dependência. “Como produz uma agitação, um bem-estar, a pessoa fica bem disposta. Mulheres ficam agitadas e até agressivas”, revelou.
Valero disse que já foi procurado por pais de alunos que encontraram frascos da substância nos carros e quartos dos filhos. “Uma mãe chegou a encontrar uma ampola de testosterona no carro da filha e veio me perguntar o que era. Eu expliquei que aquilo era usado como anabolizante”.
Ele destaca que muitas pessoas que se iniciam no uso são abordadas nas próprias academias por outros usuários das substâncias. “Infelizmente ainda temos esse lado negro nas academias, que nós buscamos sempre combater tentando conscientizar os alunos”, explica Valero.
Vaidade
O médico também esclareceu que muitos jovens que fazem uso dos anabolizantes têm consciência dos riscos que estão correndo, porém, o culto ao corpo fala mais alto. “A minha visão como médico é que a gente tem uma juventude refém do culto ao corpo e eles também são vítimas”, disse.
O médico também esclareceu que muitos jovens que fazem uso dos anabolizantes têm consciência dos riscos que estão correndo, porém, o culto ao corpo fala mais alto. “A minha visão como médico é que a gente tem uma juventude refém do culto ao corpo e eles também são vítimas”, disse.
Ele conta ainda que a vaidade é o principal fator que impede as pessoas de pararem de usar as drogas. “É muito difícil eles pararem, porque, quando eles deixam de usar, a redução muscular é muito rápida e isso mexe com a vaidade deles.”
Lei 9.224/2017
Sobre a Lei municipal 9.224/2017, Valero conta que a Bodytech, independente da exigência legal, sempre cobrou dos seus alunos um atestado de aptidão física. “Para nós não mudou nada, mas eu apoio a Lei porque assim as academias ficaram mais resguardadas”, disse. O projeto foi elaborado pelo vereador Téo Senna (PHS), em junho de 2012, e aprovada em abril deste ano.
Sobre a Lei municipal 9.224/2017, Valero conta que a Bodytech, independente da exigência legal, sempre cobrou dos seus alunos um atestado de aptidão física. “Para nós não mudou nada, mas eu apoio a Lei porque assim as academias ficaram mais resguardadas”, disse. O projeto foi elaborado pelo vereador Téo Senna (PHS), em junho de 2012, e aprovada em abril deste ano.
Em seu Artigo 1º, ela estabelece que avaliação médica deve ser feita de acordo com o tipo de exercício escolhido pelos alunos. “Ficam as academias, clubes e casas afins, no Município de Salvador, obrigados a anexar na pasta dos alunos e/ou sócios atestado médico comprovando a condição física cardiológica, bem como atestado ortopédico para a prática de esportes ou atividade física”, diz a lei.
fontes: correio da Bahia