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Profissões de risco: mais de 17 mil trabalhadores afastados por câncer de pele

O câncer de pele motivou o afastamento temporário ou a aposentadoria por invalidez de 17.261 trabalhadores no país entre 2012 e 2016, segundo levantamento do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) a pedido do CORREIO. A maioria dos casos foi relativo a neoplasia maligna da pele (7.728 registros) e melanoma maligno (3.896 casos). Ao todo, 14.176 pessoas recebem auxílio doença previdenciário no Brasil por conta da doença. 
Neste mês, a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) realiza a campanha Dezembro Laranja, para alertar sobre a doença e a necessidade de prevenção, já que, a cada ano, são 176 mil novos casos no Brasil. O INSS não dá detalhes sobre as profissões mais afetadas, mas, segundo a Fundação Jorge Duprat e Figueiredo (Fundacentro), braço do Ministério do Trabalho, os profissionais mais propensos são os que atuam na jardinagem, na construção civil, na agropecuária, na pesca, na educação física e como salva-vidas.
Isso ocorre porque eles estão em exposição diária e contínua à radiação ultravioleta (UV), o que os deixa suscetíveis a desenvolver o câncer de pele não melanoma, o mais comum entre profissionais dessas áreas, representando 90% dos cânceres de pele e 25% dos tumores registrados no Brasil.
O câncer de pele é a neoplasia maligna mais comum em todo o mundo e sua incidência tem atingido caráter epidêmico. Pode ser classificado em câncer de pele melanoma (CPM) e em câncer de pele não melanoma (CPNM). O CPM, apesar da elevada mortalidade, representa apenas 4% dos cânceres da pele; e o CPNM, de baixa letalidade, corresponde a 90% dos cânceres de pele e 25% de todos os tumores malignos registrados no Brasil.
Catadora de café desde os 15 anos, Neuza Luzia Costa Souza, 43 anos, desenvolveu câncer de pele não melanoma há cinco anos. “Quando não estava na colheita do café, ia trabalhar na roça da minha família, sempre no sol o dia todo”, contou a agricultora, que teve de ficar em tratamento por três meses para se livrar de um câncer em fase inicial. “Hoje, só trabalho com luva, blusa de manga e chapelão. Ainda bem que procurei logo cedo saber o que eu tinha, pois poderia ter sido algo pior”.
A doença
O câncer de pele é uma proliferação celular anormal e descontrolada que apresenta diferentes variações: carcinoma basocelular (atinge as células da camada mais profunda da epiderme), carcinoma espinocelular (se manifesta nas camadas mais superiores da pele) e melanoma, originária nas células produtoras de melanina. Especialistas alertam que, quanto mais cedo o diagnóstico, maiores as chances de cura. 
Alguns indícios que merecem atenção e podem ser sintomas da doença são lesões na pele de aparência elevada e brilhante, translúcida, avermelhada, castanha, rósea ou multicolorida, com crosta central e que sangra facilmente. Outro indicativo é uma pinta preta ou castanha, que muda sua cor ou textura e torna-se irregular nas bordas e cresce de tamanho. Ou ainda uma mancha ou ferida que não cicatriza e continua a crescer, apresentando coceira, crostas, erosões ou sangramento.
No Brasil, os estados onde mais têm casos de câncer de pele são os do Sul do país. “Isso ocorre porque as pessoas dessa região tem origem europeia, são brancas e de olhos claros, têm pouca melanina na pele. Já os nordestinos, apesar de a região ter maiores incidências de raios solares, são os menos afetados por conta da cor da pele negra ou parda”, informou o dermatologista Kurt Trev, da SBD.
Genética
Indivíduos com histórico da doença na família ou com presença de grande número de pintas no corpo devem ter cuidado redobrado, pois possuem maior probabilidade de desenvolver o câncer de pele. Alguns casos podem estar associados a cicatrizes crônicas, além de exposição ao tabagismo e radiação.
No caso de trabalhadores, o assistente técnico do Departamento de Segurança e Saúde no Trabalho do Ministério do Trabalho Jeferson Seidler diz que, para reduzir os riscos da doença, o empregador deve analisar as atividades desenvolvidas na empresa, priorizando medidas de controle abrangentes e coletivas.
O trabalhador também precisa se informar e participar ativamente da prevenção. “Todos os trabalhadores têm direito de conhecer os riscos das suas atividades e o empregador tem o dever legal de informá-los sobre os riscos e a forma de controle. A primeira coisa a fazer é solicitar essas informações, por escrito, ao empregador. E seguir minuciosamente as orientações para prevenção: procedimentos de trabalho, uso de equipamento de proteção individual (EPI)”, disse Seidler.
Além disso,  ele destaca que “é importante trabalhar com a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa) ou Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT), no sentido de buscar melhoria contínua, se possível com controle de risco na fonte, de forma que o EPI seja uma barreira a mais, nunca a única”.
O Ministério do Trabalho informa que atua na fiscalização de acordo com as Normas Regulamentadoras 9, 7 e 6. A primeira identifica e controla riscos, com prioridade para a redução por meio de seu controle na fonte e de proteções coletivas, além de medidas administrativas, como a redução do tempo de exposição.
A NR-7, o Programa de Controle Médico Ocupacional, tem como foco a atenção especial aos riscos a que o trabalhador está exposto; o médico deve fazer um exame de pele cuidadoso e, sempre que necessário, encaminhar o paciente ao dermatologista.
Já a NR-6 estabelece a escolha dos EPIs adequados para evitar o contato direto da pele com substâncias químicas ou exposição a radiações, de acordo com a avaliação dos riscos na situação real de trabalho. Para a Sociedade Brasileira de Dermatologia, deveria ser obrigatório o uso do protetor solar em atividades de exposição ao sol. O Ministério do Trabalho diz que, “embora o creme protetor solar não seja considerado EPI, seu uso é recomendado em trabalhos com exposição ao sol, bem como roupas adequadas, incluindo chapéus ou bonés”. 
Mais de cinco mil novos casos são registrados na Bahia 
As estimativas de 2017 para a Bahia de novos casos do tipo de câncer de pele mais comum no Brasil – o não melanoma – é de 5.016, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca). Desse total, 2.250 são em homens e 2.760 em mulheres.  Já  para Salvador, o Inca estima 640 casos: 340 homens e 300 mulheres. No país inteiro, são estimadas 175.760 novas ocorrências. 
Além do não melanoma, há o câncer de pele melanoma, o qual, segundo o Inca, tem origem nas células produtoras de melanina, substância que determina a cor da pele, e tem predominância em adultos brancos. Ambos correspondem a 30% de todos os tumores malignos, com o diferencial de que o melanona representa apenas 3% dos tumores malignos da pele, sendo, contudo, o mais grave devido a sua alta possibilidade de metástase.
Já o não melanoma, informa o Inca, tem altos percentuais de cura, se detectado precocemente, e é o de mais baixa mortalidade entre os cânceres de pele. Ele é  mais comum em pessoas com mais de 40 anos, sendo relativamente raro em crianças e negros, com exceção daqueles já portadores de doenças cutâneas anteriores.
Pessoas de pele clara, sensível à ação dos raios solares, ou com doenças cutâneas prévias são as principais vítimas. Como a pele – maior órgão do corpo humano – é heterogênea, o não-melanoma apresenta tumores de diferentes linhagens.
Os mais frequentes no Brasil são o carcinoma epidermoide e o carcinoma basocelular,  que, apesar de mais incidente, é também o menos agressivo e atinge mais homens que mulheres.
Os dados mais atuais disponíveis pelo Inca sobre mortalidade relativa aos dois tipos de câncer de pele são de 2015. No país, enquanto o melanoma matou naquele ano 1.794 pessoas, o do outro tipo levou a óbito 1.958. Na Bahia, onde o sol é intenso na maior parte do ano, as mortes por melanoma chegaram a 37, nove delas em Salvador, onde outras 22 pessoas morreram em decorrência do não melanoma e 131 na Bahia.
A dermatologista Amanda Vieira informa que “o melanoma é o tipo de câncer de pele de pior prognóstico”. “Geralmente se inicia como uma pinta, acastanhada ou enegrecida, que pode mudar o tamanho, a cor e o formato, às vezes causa sangramento”.
O prognóstico desse tipo de câncer pode ser considerado bom, se detectado nos estágios iniciais.  Nos últimos anos, houve uma grande melhora na sobrevida dos pacientes com melanoma, principalmente devido à detecção precoce do tumor, segundo informações do Inca.
Campanha prevê ações para alertar a população dos riscos
Realizada desde 2014 pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), a campanha Dezembro Laranja prevê iluminação de monumentos nas cidades, iniciativas de conscientização em praias e parques com distribuição de filtro solar, entre outras ações. O tema da campanha deste ano é Se Exponha, mas não se Queime. A campanha busca também orientar as pessoas que gostam de ficar expostas ao sol com o propósito de se bronzear.
Segundo o  dermatologista Kurt Trev, membro da SBD, o aspecto bronzeado é fruto de uma inflamação na pele. Ele recomenda, no máximo, 15 minutos de exposição ao sol. “E  deve ser no horário até antes das 10h e depois das 16h. Fora isso, o correto é ficar na sombra e continuar a usar protetor solar”, explica o especialista, informando depois que o nível de proteção do fator número 50 é o mesmo dos de valores acima disso.
Saiba como prevenir o câncer de pele
Exposição ao sol – Evite a exposição solar, principalmente durante os horários de pico (10h às 16h), quando os raios são mais intensos e o maior fator de risco é a sensibilidade ao sol.
Roupas para proteger – Use roupas que protejam o corpo, como calças e blusas de manga comprida.
Cuidado começa cedo – Crianças e adolescentes devem evitar superexposição ao sol para reduzir os riscos de melanoma na fase adulta.
Proteção para os olhos – Use óculos com filtro de proteção solar.
Evite o sol nas caminhadas – Crie o hábito de buscar sombras durante deslocamentos ou permanência em áreas ensolaradas.
Proteja a cabeça – Use chapéu de abas largas
Protetor solar – O uso do filtro solar não tem como objetivo permitir o aumento do tempo de exposição ao sol, nem estimular o bronzeamento. O real fator de proteção varia com a espessura da camada de creme aplicada, a frequência da aplicação, a transpiração e a exposição à água. Use protetor com fator de proteção solar (FPS) igual ou superior a 15. Ele deve ser aplicado 30 minutos antes da exposição ao sol e repetida a aplicação a cada uma hora.
FONTES: CORREIO 24HORAS
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