Após demitir funcionário, administrador é sequestrado e morto na Bahia

Após demitir funcionário, administrador é sequestrado e morto na Bahia
Foto: Mauro akin 

Família cita jura de morte após dispensa; corpo foi queimado e pernas arrancadas
“Ele já sabia que ia morrer. Há 15 dias foi ameaçado de morte por um funcionário que demitiu”, disse a costureira Kátia Crispina Sá Barreto, 59 anos, a mulher do administrador Alailson da Silva Santos, abordado por quatro homens encapuzados e armados na manhã de terça-feira (18) em Simões Filho, Região Metropolitana de Salvador (RMS). Nesta quarta (19), um corpo carbonizado foi encontrado dentro do porta-malas do Meriva de Alailson, com as pernas amputadas e uma perfuração no crânio.
“O corpo está irreconhecível, mas temos certeza que é ele diante das circunstâncias”, disse o filho de Alailson, o relações públicas Alan Sá Barreto, 34.
A identificação do corpo será pelo Departamento de Polícia Técnica (DPT) através de exame de DNA, já que as chamas consumiram as digitais. Segundo a assessoria de comunicação da Polícia Civil, o caso é investigado pela 22ª Delegacia (Simões Filho).
Viúva segura foto de Alailson; ela tem certeza que corpo encontrado em carro incendiado é do marido (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO)
Na terça-feira, Alailson tinha deixado a família em casa (por uma questão de segurança, o bairro não será revelado) e seguido às pressas para a Unifrigo, um frigorífico em Simões Filho, onde trabalhava como encarregado de produção há mais de 20 anos. “Ele deixou a gente às 5h45. Tínhamos acabado de chegar casa de amigos. Como ele tinha que estar às 7h no trabalho, porque tinha que despachar os caminhões, pois era o segundo homem depois do dono, saiu daqui agoniado, nervoso”, contou Kátia.
Por volta das 7h15, Kátia recebeu uma ligação do dono da Unifrigo perguntando sobre o paradeiro de Alailson. “Seu Ademarinho disse que meu marido não tinha chegado. Aí comecei a ficar nervosa, pensava que ele tinha sofrido um acidente no caminho, já que saiu de casa nervoso por conta do horário”, disse a costureira.
Mas instantes depois a possibilidade de um acidente foi descartada. “Como meu marido trabalha em Simões Filho há anos, e por isso ele é muito conhecido, um motorista de caminhão o viu sendo abordado por quatro homens encapuzados armados quando o carro dele subiu uma ladeira que dá acesso ao frigorífico, no bairro Convel. Eles entraram no carro dele”, relatou a costureira.
Parentes de Alailson, entre eles o filho (E) e a viúva (D), ainda não foram chamados para prestar depoimento (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO)
Os suspeitos obrigaram a vítima a ficar no veículo – um Meriva de cor prata – e fugiram pela BA-093. O motorista do caminhão avisou o dono da Unifrio, que por sua vez foi à 22ª Delegacia (Simões Filho), onde o caso foi registrado, e em seguida a família comunicada.
Diante da notícia, os parentes do administrador, entre eles policiais civis e militares, iniciaram por conta própria uma busca. “Fomos em vários pontos de Simões Filho, que achamos que ele poderia ter sido deixado, inclusive nas vias do Centro Industrial de Aratu (CIA), onde costumam desovar corpos, mas não encontramos nada”, contou o filho de Alailson, Alan. 
Por volta de 0h30 de quarta-feira, um dos parentes policiais ligou avisando que o Mariva foi encontrado em chamas na Estrada de Cotegipe, próximo ao posto da Policia Rodoviária Federal (PRF), da BR-324 e que havia um corpo no porta-malas. “Não me deixaram ver, quiseram me poupar, mas me disseram que o corpo estava sem as duas pernas e com uma perfuração na cabeça”, contou Alan.
Homens observam carro Meriva de administrador; corpo foi achado no porta-malas com pernas amputadas (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO)
Demissão e ameaça
De acordo com parentes, Alailson sabia que ia morrer. Há 15 dias chegou em casa assustado e contou que foi ameaçado por um funcionário que ele tinha acabado ele demitir.
“Alguém de confiança contou ao meu pai que um funcionário roubava carne. Então, ele conversou com o rapaz, que negou. Mas o dono da empresa disse que não queria mais o rapaz no quadro da empresa e meu pai teve que demiti-lo. No dia que deixou a empresa, o rapaz olhou para meu pai e disse: ‘Você é um homem morto. Eu vou te matar’”, contou Alan.
Alailson contou à família que fora jurado de morte, mas não adotou nenhuma medida de segurança. “Inicialmente, ele ficou tenso, mas depois não prestou queixa, não mudou os hábitos porque acreditava que fosse ficar só na ameaça”, disse Alan.
“Outro dia ele chegou aqui furioso porque alguém arranhou todo o lado direito do carro dele, que estava estacionado dentro da empresa”, complementou a mulher Alailson, Kátia.  
A família disse ainda que há uns 20 dias, o encarregado de produção se envolveu numa briga em uma praça de Simões Filho. “O negócio foi feio. Ele chegou em casa com um arranhão nas costas. Não sabemos o motivo, mas ele entrou em luta corporal”, contou Kátia.
Procurado pelo CORREIO, o dono da Unifrigo Ademário Ribeiro Filho negou que houve demissão nos últimos 30 dias na empresa e que, em nenhum momento, o encarregado de produção lhe comentou sobre roubou na empresa. “Tinha uma relação muito próxima com ele. Se ele fosse ameaçado, com certeza saberia”.
Ademário confirmou que o carro de Alailson foi arranhado no estacionamento da empresa. “Sim, a única coisa que ele me disse foi isso: o arranhão na Meriva, mas nada. A única coisa que sei é que ele foi emboscado e que tudo está sendo investigado pela polícia”, declarou.
Relacionamento de Kátia com Alailson durou 43 anos; ela pede prisão de envolvidos no crime (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO)
Investigação
O desaparecimento de Alailson e o encontro do cadáver no porta-malas da Meriva estão sendo investigados pelo delegado Ciro Palmeira, titular da 2ª Delegacia (Simões Filho). Através da assessoria da Polícia Civil, Palmeira informou somente que os depoimentos serão tomados ainda na semana que vem, inclusive da família e dos colegas do encarregado de produção. “Estamos à disposição da polícia desde o dia do episódio (desaparecimento), mas até agora a polícia não nos procurou”, disse Alan.
Em média, o DPT leva 30 dias para identificar um corpo através do exame de DNA. “Estou no Brasil até o dia 16 e, se não houver agilidade, terei que ir embora sem ter enterrado meu pai”, declarou Alan, que mora na Espanha. Ele veio à Bahia para visitar a avó materna que estava em fase terminal. 
“O que mais me revolta foi o que fizeram com ele. O trataram como um animal. Teve as pernas arrancadas. Ele não merecia isso”, lamentou Alan.
Casamento
Alailson e Kátia conviveram juntos por 43 anos. Eles se conheceram ainda adolescentes, ambos com 16 anos, quando trabalhavam com a autorização dos pais numa fábrica têxtil – ele no setor de máquina, ela na produção. “Foi amor à primeira vista”, contou Kátia.
O namoro evoluiu e, aos 20 anos, os dois casaram e tiveram os três filhos em seguida. “Nosso amor foi tão grande que a gente dizia um para o outro que só a morte poderia nos separar. E foi o que aconteceu”, lamentou a viúva.
Correio da Bahia 

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